sexta-feira, 26 de junho de 2015

S´IMBORA, O MUSICAL - SIMONAL SENSACIONAL


O TEATRO QUE EU VI - TEXTO ESCRITO EM 26/06/2015



Quem já viveu um tantinho sabe que a glória é efêmera e até as fortalezas sucumbem sob a ação de um terremoto. Essa gangorra à qual estamos sujeitos e que pode jogar alguém tanto às alturas como ao chão, é o que mostra o oportuno espetáculo S´Imbora, o Musical – a História de Wilson Simonal (Teatro Cetip – Rua Caropés, 88).

Simonal foi um dos maiores nomes da MPB no final da década de 1960. Nascido no subúrbio do Rio de Janeiro, ex-cabo do exército, crooner de banda e extremamente “safo”, viu sua sorte mudar ao aproximar-se do legendário jornalista e produtor musical Carlos Imperial (1935-1992), que apresentava um programa de auditório na extinta TV Guanabara, chamado Tutti Frutti.  Contratado como ajudante de palco do apresentador, nascia ali uma amizade que durou por toda a vida e que renderia uma parceria de grandes resultados. É de Imperial a autoria de vários  sucessos do cantor. No início dos anos 1970, no auge da fama, Simonal descobriu estar sendo roubado por seu contador. Furioso, resolveu dar um “corretivo” no malandro e para isso, contou com a ajuda de policiais amigos que atuavam no Dops, temido órgão a serviço da repressão militar. Ao que consta, o corretivo descambou para a tortura e Simonal acabou sendo acusado como mandante. Como corolário,  teve ainda seu nome associado a colaboradores dos militares em ações contra a subversão, fato nunca provado e postumamente desmentido. Condenado e preso, Simonal viu sua carreira descer ladeira abaixo e foi reduzido ao ingrato papel de dedo-duro.  A imprensa e representantes da esquerda foram implacáveis e o outrora ídolo das multidões foi impiedosamente banido do meio artístico e condenado ao ostracismo. Em 2000, esquecido e alquebrado, aos 62 anos de idade, Simonal despediu-se, melancolicamente, da vida. Era o fim de uma trajetória com altos altíssimos e baixos baixíssimos.

Anos depois, sua história foi tema de dois  livros, um  escrito por Ricardo Alexandre (Nem Vem que Não Tem - A Vida e o Veneno de Wilson Simonal – Ed. Saraiva) e outro escrito por Gustavo Alonso (Simonal Quem Não Tem Swing Morre com a Boca Cheia de Formiga – Ed. Record), além de um vigoroso documentário dirigido por Cláudio Manoel (Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei – 2009). Agora chega ao palco, na forma de um musical escrito por Nelson Motta e Patrícia Andrade, com direção de Pedro Brício.

Para dar vida ao emblemático artista foi escolhido um ator espetacular: Ícaro Silva. Esbanjando talento, simpatia e muito swing, Ícaro Silva contagia a platéia do começo ao fim do espetáculo, especialmente na reprodução do antológico dueto com Sarah Vaughan no Programa Flávio Cavalcanti. Com muita ginga e cantando barbaridade, o ator brinda a platéia com sucessos como País Tropical, Meu Limão, Meu Limoeiro, Teresinha, Na Tonga da Mironga do Cabuletê e mais três dezenas de canções.  Não poderia haver escolha mais acertada para reproduzir a contagiante simpatia de Simonal. Na alegria e na dor, o ator responde à altura do biografado. Maravilhoso!

O amigo de todas as horas Carlos Imperial, figura de proa na trajetória de Simonal, é interpretado, com paixão, por Thelmo Fernandes e Teresa, a primeira mulher e mãe dos filhos do cantor, é vigorosamente defendida por Marina Palha. Os demais membros do elenco se desdobram em diversas personagens que fizeram parte da vida do cantor. Todos muito competentes, especialmente Cassia Raquel, Ariane Souza e Dennis Pinheiro que se destacam com suas deliciosas gingas.

Vibrante do começo ao fim, S´Imbora o Musical é mais um espetáculo que dá gosto assistir. Encanta e emociona!

S´IMBORA, O MUSICAL - CARTAZ

Ícaro Silva - S´IMBORA, O MUSICAL

Ícaro Silva - S´IMBORA, O MUSICAL 

Ícaro Silva e Marina Palha - S´IMBORA, O MUSICAL 

Thelmo Fernandes e Ícaro Silva - S´IMBORA, O MUSICAL 

Ariane Souza, Livia Guerra e Cassia Raquel - S´IMBORA, O MUSICAL 
Wilson Simonal com Pelé na capa da revista Amiga (Ed. Bloch)

Wilson Simonal nas capas da revista Intervalo (Ed. Abril) termômetro do sucesso nos anos 1960 
fotos: divulgação e acervo Orias Elias

quarta-feira, 24 de junho de 2015

"Consertando Frank" – A Manipulação como Mola Mestra

O TEATRO QUE EU VI - TEXTO ESCRITO EM 03/04/2015


Em tempos de bandeiras moralistas em contraponto a ventos de tolerância, quando deputados e senadores sobem à tribuna vociferando contra lésbicas octogenárias da ficção e mudanças para aceite de legalização das relações homo afetivas, nada mais oportuno do que levar o tema para o palco, ainda uma tribuna para discussões polêmicas.

Afinal, existe ou não a famigerada “cura gay”? Essa questão é o ponto de partida da peça “Consertando Frank” (Teatro MUBE, Rua Alemanha, 221), escrita pelo americano Ken Hanes e dirigida de forma impecável por Marco Antônio Pâmio.

Divertido e espirituoso, o jornalista e escritor Frank Johnston (Chico Carvalho) é o que poderia se chamar “uma bicha alegrinha”. Aparentemente bem resolvido quanto à sua sexualidade, aceita a sugestão do namorado, o terapeuta Jonatha Baldwin (Rubens Caribé) para, juntos, desmascararem outro terapeuta, o Dr. Arthur Apsey (Henrique Schafer), um suposto charlatão que diz promover em suas terapias a cura de pacientes gays, trazendo-os de volta aos trilhos da, digamos, “normalidade”. Além de ajudar o namorado, Frank teria a oportunidade de escrever um artigo consistente, ao invés de artigos sobre flores e amenidades, sua marca registrada.

O que, a princípio, pareceu uma diversão para Frank, aos poucos, se lhe revela algo mais que isso: um jogo de resultados imprevisíveis. Difícil saber qual dos jogadores é o mais implacável. Ao expor o namorado ao método do rival na intenção de desmascará-lo Jonatha pode estar sendo infinitamente mais cruel, uma vez que o segundo não tem qualquer vínculo afetivo com o paciente. Nessa disputa insana entre os dois experimentados terapeutas, o vulnerável Frank poder ser, talvez, o mais duramente atingido e o estrago será a medida que decidirá a partida.
Na condução desse intrigante jogo, a direção segura de Pâmio conta com uma cenografia funcional do premiado Chris Aizner, que mistura e ao mesmo tempo separa os dois mares em que o frágil Frank mergulha, sem saber onde está o porto seguro.

No elenco, Henrique Schafer e Rubens Caribé estão impecáveis como os dois terapeutas rivais, mas é Chico Carvalho o dono da bola. Navegando entre mentiras e verdades, alegrias e tristezas, muitas dúvidas e poucas certezas, o ator dá um show de encantadora interpretação. Maravilhoso!

Para os desavisados, “Consertando Frank” não se limita a ser uma peça que discute sexualidade, cura gay e afins. É acima de tudo, uma contundente reflexão sobre a crueldade da manipulação psicológica, que encontra terreno fértil na alma de pessoas fragilizadas. É também uma instigante avaliação sobre o grau de violência que nossa mente pode sofrer a partir, justamente, de pessoas a quem amamos e em quem confiamos. Brilhante!

capa do Programa

Henrique Schafer, Chico Carvalho e Rubens Caribé, desempenhos brilhantes

 Chico Carvalho e Rubens Caribé

Henrique Schafer e Chico Carvalho 

 Chico Carvalho e Rubens Caribé

QUANDO EU ERA BONITA - O Encanto das Lobas

O TEATRO QUE EU VI - TEXTO ESCRITO EM 09/05/2015



Cada tempo da vida tem lá seus encantos, mas é inegável que os verdes anos da nossa juventude são os mais esplendorosos. É um tempo em que ainda não acumulamos as perdas que inexoravelmente virão com o passar dos anos e, conseqüentemente, vemos o mundo em tons mais róseos. Entregar-se passivamente à força da gravidade é, a meu ver, um erro, na mesma proporção em que não aceitá-la também o é.

Se para os homens o peso da idade faz estragos, para as mulheres, além das transformações hormonais e a inerente vaidade feminina, o estrago parece ser ainda mais intenso. Mas elas lutam, às vezes sofrida e exageradamente, recorrendo a botox, silicones, bisturis e afins.

O momento dramático dos quarenta foi prorrogado para os cinqüenta, mas não desapareceu. É nesse momento de curva que se encontram as duas personagens de “Quando Eu Era Bonita” em cartaz às Sextas feiras no Espaço Parlapatões (Praça Roosevelt, 158). Ambas são grandes amigas e estão numa aborrecida festinha de confraternização da empresa onde trabalham. À medida que a noite avança e o teor alcoólico aumenta, as lobas (muito mais gatas que lobas, diga-se de passagem), destravam a língua e o coração, uivando contra os efeitos dessa imoralidade chamada envelhecimento e suas inevitáveis conseqüências no corpo e na alma.
Sob medida para um tour de force entre duas grandes atrizes, a peça revela-se uma delícia para a platéia. Numa inusitada profusão de desabafos e revelações, as duas mulheres embrenham-se noite adentro, desfiando um rosário de pérolas. Do patético ao terno, da suavidade à angústia, da amargura ao escracho, da realidade ao saudosismo, da revolta ao conformismo, as personagens navegam entre algumas calmarias e muitas turbulências.

O texto e a direção, ambas de Elzemann Neves, sem excepcionais ambições, e a montagem simples, embora agradabilíssimos, poderiam passar em brancas nuvens se não estivessem no palco duas atrizes na plenitude de seus talentos. Neves, acertadamente, aposta nas duas estupendas atrizes, as cartas de seu jogo. É gol de placa! Ester Laccava, a musa do teatro paulistano da atualidade, mais uma vez dá um show de interpretação. É sempre um prazer vê-la em cena, privilégio que venho tendo por esses últimos 20 anos e a cada novo trabalho o encanto se renova. Ao lado de Lulu Pavarin (maravilhosa!), forma uma dupla superlativa em cena. Em perfeita sintonia, plenas e já libertas de quaisquer amarras de texto e direção, as duas atrizes iluminam o palco e encantam a platéia. Uma maravilha!

Em tempo: o título da peça é injusto com a dupla: Elas estão lindas!

Ester Laccava e Lulu Pavarin em Quando eu Era Bonita

 Lulu Pavarin e Ester Laccava em Quando eu Era Bonita

Lulu Pavarin e Ester Laccava em Quando eu Era Bonita

Lulu Pavarin e Ester Laccava em Quando eu Era Bonita

Visitando o Sr. Green – O Poder da Amizade

O TEATRO QUE EU VI - TEXTO ESCRITO EM 16/05/2015



Todo homem precisa de um abraço, não importa o quão empedernido possa estar seu coração. A busca do afeto é inerente à natureza até dos bichos. Muitas vezes um ombro amigo nos salva em momentos menos felizes e alumia labirintos em que nos encontramos perdidos, permitindo que nossa jornada se torne menos penosa.

Por outro lado, os universos de jovens e velhos são como duas encostas de um desfiladeiro e, não raro, pode inexistir uma ponte que os una de forma satisfatória. Mas essa possibilidade de solidariedade entre esses dois mundos diametralmente opostos existe e é disso que trata o espetáculo “Visitando o Sr. Green”, em cartaz no Teatro Jaraguá (Rua Martins Fontes, 71).
Escrita pelo dramaturgo americano Jeff Baron, a peça já teve uma montagem brasileira, de grande sucesso, no ano 2000, tendo o legendário Paulo Autran como protagonista ao lado de Cássio Scapin, que assina a direção da atual montagem.

Após envolver-se num acidente de trânsito, o jovem Ross Gardner recebe, como punição da justiça, a incumbência de realizar um trabalho assistencial: visitar semanalmente, durante seis meses e prestar ajuda à sua vítima, um irascível ancião judeu, o Sr. Green. Intolerante e ranzinza, o velho octogenário não se mostra disposto a facilitar as coisas para o rapaz. Do estranhamento inicial, a relação de ambos evolui para um mundo de descobertas, onde cada um deles vai revelando, aos poucos, as sombras de suas almas. O resultado é um embate de valores que culmina em momentos de genuína emoção.

Profundo conhecedor do texto, Cássio Scapin conduz a encenação com olhar atento e carinhoso, explorando ao máximo as contradições de cada personagem e as múltiplas possibilidades dos seus atores. O resultado é delicioso.

Sérgio Mamberti, veterano dos palcos (Noite dos Campeões, Chuva, O Diário de Anne Frank, Pérola, entre tantos outros momentos brilhantes), depois de uma pífia incursão pelos meandros do governo petista, retorna ao que melhor sabe fazer: arrasar sobre o tablado. Na pele do solitário viúvo, sozinho com suas lembranças e que encontra num intruso o descortinar de um novo horizonte, ele está, no mínimo, magistral.

Para viver o jovem Ross, a escolha de Ricardo Gelli não poderia ser mais acertada. Se firmando como um dos melhores atores de sua geração, Gelli, mais uma vez, tem uma atuação pungente, prenhe de sentimentos verdadeiros. Absolutamente pleno, desenvolve sua personagem com requintes filigramáticos, modificando até o brilho do olhar que o jovem executivo vai adquirindo à medida que convive com aquele homem que, aparentemente, só tem no horizonte a expectativa da morte. Ross, aos poucos vai iluminando a sala, retirando a poeira, removendo os entulhos e abrindo as janelas para um novo despertar do velho Sr. Green. Ao mesmo tempo, ele reflete sobre seus equívocos e se liberta das amarras que o impedem de ser feliz e viver em plenitude sua própria vida. Um deslumbre!

Após 15 anos da primeira montagem, é de se supor que alguns discursos, aqui e ali estejam datados, especialmente quando se vê casais gays oficializando relações estáveis e andando de mãos dadas nas ruas centrais e alguns shopping centers da cidade de São Paulo, mas é preciso considerar que isso é meramente geográfico e a realidade, para a imensa maioria, ainda é de intolerância e incompreensão. Basta para isso, ver os arroubos homofóbicos de deputados no Congresso e a onda de políticos retrógrados, com bancadas de evangélicos, bancada da bala e outras frentes com os pés no que há de mais abjeto no retrocesso e na intolerância às diferenças. E tudo, saliente-se, com as bênçãos do governo central, em nome de uma suposta governabilidade. Não nos enganemos, o preconceito vai persistir por muito tempo mais.

Também é oportuno um olhar mais apurado sobre a realidade solitária dos velhos que, graças a uma cada vez maior longevidade, num mundo feito para os mais jovens, se transforma num peso para a sociedade, não obstante sua contribuição ao longo dos verdes anos.


Esse contexto justifica, plenamente, a nova montagem do texto, que conta, para seu pleno brilho com um cenário funcional da dupla Chris e Nilton Aizner, a iluminação sempre eficiente de Wagner Freire e a trilha musical linda de Daniel Maia. Uma equipe de ouro, enfim, para um espetáculo carregado de emoção e brilhantemente conduzido por dois atores em perfeita sintonia. Um belíssimo encontro, num oportuno revival. Vale a visita!


Visitando o Sr. Green - CARTAZ

Ricardo Gelli e Sérgio Mamberti em Visitando o Sr. Green 

Ricardo Gelli e Sérgio Mamberti em Visitando o Sr. Green 

Ricardo Gelli e Sérgio Mamberti em Visitando o Sr. Green 

Ricardo Gelli e Sérgio Mamberti em Visitando o Sr. Green 
Fotos: divulgação

terça-feira, 23 de junho de 2015

CASSIA ELLER - O ENCANTO DAS METAMORFOSES

O TEATRO QUE EU VI - TEXTO ESCRITO EM 05/06/2015


Os Musicais ganham a cada dia mais presença nos palcos da cidade. É curioso observar que dos primeiros espetáculos, 100% importados, começa-se a despontar montagens 100% nacionais. Nesse novo nicho estão na linha de frente as histórias biográficas de grandes ícones da nossa música, especialmente.
Alguns diretores já conseguem se destacar nesse panorama, entre eles está João Fonseca. “Tim Maia: Vale Tudo” e “Cazuza – O Tempo Não Para”se mostraram espetáculos deslumbrantes. O grande trunfo dessas montagens foi trazer ao palco uma metamorfose do ator na personagem real levada à cena. A fórmula que impressionou em “Tim Maia” e “Cazuza” se repete no novo espetáculo do diretor, “Cassia Eller, o Musical”, em cartaz no Teatro das Artes.
Figura emblemática, assim como Cazuza, Cássia Eller foi uma transgressora que viveu intensamente uma curta vida. O musical, requintado em sua extraordinária simplicidade, faz jus ao estilo despojado da biografada. Menina de classe média do subúrbio carioca, mudou-se na adolescência com os pais e os 3 irmãos para Brasília. Extraordinariamente tímida e se achando esquisita, refugiava-se no quarto com seu violão. A dificuldade em falar não encontrava equivalente ao cantar. Nesse quesito era um estouro e impressionava quem a ouvia. Numa audição para participar de um show de Osvaldo Montenegro ela conheceu o ator Marcelo Saback e juntos montaram um espetáculo. Mas sua paixão era a música e foi por essa trilha que ela caminhou rumo ao sucesso. Com a ajuda da fiel companheira Maria Eugênia partiu para São Paulo e depois rumou ao Rio de Janeiro, onde estourou definitivamente nas paradas de sucesso e se tornou um ícone. Foi no Rio que ela também, num desvio de rota, já que desde garota teve predileção por transar com meninas, engravidou de seu único filho e seu amor maior: Francisco. A preocupação com seus músicos e, conseqüentemente, suas seguranças, além do futuro da mulher e do filho a levaram a uma sobrecarregada maratona de trabalho, regada a bebida e droga, que lhe foi fatal.
A trajetória de Cássia Eller, sua música e seus amores é contada no palco num poético texto escrito por Patrícia Andrade e brilhantemente dirigido por João Fonseca e Vinícus Arneiro. Para dar vida à fulgurante artista foi escolhida uma intérprete impecável: Tacy de Campos. É uma fusão absoluta de intérprete e personagem, num resultado impressionante de tão perfeito. Se revezando em diversos papéis que contam e cantam a vida da estrela, um grupo de atores muito competentes: Jandir Ferrari, Tainá Gallo, Emerson Espíndola, Eline Porto, Jana Figarella e, especialmente, Evelyn Castro, que tem ótimos momentos em cena.
“Cassia Eller, o Musical” é puro encantamento. Uma maravilha!


Tacy de Campos e Emerson Espíndola

Tacy de Campos e Evelyn Castro, ótimas

Tacy de Campos 

Mudança de Hábito – A Broadway em Sampa

O TEATRO QUE EU VI - TEXTO ESCRITO EM 12/06/2015


Desde sua inauguração, ainda como Teatro Abril, o hoje Teatro Renaut apresenta grandes espetáculos originários da Broadway. São montagens trazidas dos Estados Unidos exatamente iguais às matrizes americanas. O cuidado com que isso é feito é algo impressionante. Não há espaço para quaisquer deslizes ou liberdades que possam, acidentalmente, resultar qualquer demérito ao original.
Há quem torça o nariz para tais eventos, mas não há como negar que é um deslumbre. São espetáculos com alto teor comercial, mas garante ao nosso país emprego para centenas de profissionais e o mais importante: Está provocando um fantástico aperfeiçoamento técnico dos nossos profissionais. 
Técnicos operam com uma precisão extraordinária assim como atores, cantores, bailarinos, músicos, que estão cada vez melhores. A cada ano esse contingente de excelentes profissionais aumenta e abre-se espaço para um mercado de trabalho que se expande e já dá origem a espetáculos originais de grande qualidade artística. É preciso ser muito ressentido para não avaliar isso tudo como algo altamente positivo. Ah, tá, gastam-se milhões nessas produções, dirão alguns puristas, mas e daí, se como contrapartida é apresentado ao público um show de encher os olhos e o coração? Comparados com os BILHÕES surrupiados dos cofres públicos pelos nossos “excelentíssimos” políticos o que isso significa? Acordemos, companheiros!

“Mudança de Hábito” é a bola da vez entre as atrações do gênero na capital. O que se vê em duas horas de espetáculo é um show de tecnologia, alegria, talento, emoção, muito trabalho e dedicação. Um deslumbre absoluto comandado por uma mulher de excepcional qualidade vocal chamada Karin Hils. Na sonoridade do nome, uma coincidência interessante: Ela é cem por cento carismática. Que beleza é ver essa fera em cena. Que voz, que talento, que presença! Uma maravilha! O elenco coadjuvante, formado por um time de atores altamente qualificados, garante um espetáculo nada menos que brilhante. Sei que destacar atores num elenco tão harmonioso pode parecer injusto, mas não dá para não mencionar Thiago Machado, simplesmente impagável no papel do policial Eddie. Os números solo dele elevam a voltagem do frenético espetáculo. Um show de humor! Outra figura encantadora é Ana Luiza Ferreira, que na peça interpreta a postulante Maria Roberta. Que voz tem essa moça! Aliás, os números que envolvem o conjunto de freiras são de memorável beleza.
A base do espetáculo é um antigo filme americano protagonizado pela carismática Whoopi Goldberg e coadjuvado pela espetacular Maggie Smith, a Fernanda Montenegro da Inglaterra. Na história, a cantora de boate Delores Van Cartier, testemunha-chave de um crime, para ser protegida é acomodada pela polícia num convento de freiras comandado por uma austera madre superiora. Não demora muito tempo para a exuberante hóspede revolucionar o casto ambiente do convento, num festival de situações deliciosamente cômicas e frenéticas. Pura subversão!
“Mudança de Hábito” é enfim, um espetáculo deslumbrante. Enche os olhos, o coração e outros sentidos mais! Yes, em vez de endeusar o “padrão FIFA”, nossa presidente deveria olhar para o “Padrão Broadway“ dos artistas brasileiros. Seria de melhor proveito!



Karen Hils

Karen Hils

Karen Hils

Ana Luiza Ferreira

César Mello
Karen Hils e Thiago Machado

Karen Hils e elenco


“Urinal, o Musical” – Um Triunfo!

O TEATRO QUE EU VI - TEXTO ESCRITO EM 16/06/2015

O título, convenhamos, não é nada atraente; não se trata de uma mega produção com recursos milionários, nem patrocínio de grande empresa ou banco; no elenco não está nenhuma super star do show business e o resultado é um deslumbre! Isso é “Urinal, o Musical”, em cartaz no teatro do Núcleo Experimental (Rua Barra Funda, 637).

A versão original da peça (“Urinetown”), escrita e produzida pela dupla Mark Hollmann e Greg Kotis, estreou na Broadway em 2001, tendo recebido vários prêmios Tony, a maior láurea do teatro americano. A versão brasileira teve ótima tradução do diretor Zé Henrique de Paula e da maestrina Fernanda Maia, que também se encarrega, com brilho, da regência do espetáculo à frente de um excelente grupo de músicos. A dupla trouxe a história para o nosso contexto atual, temperando-a com critica sutil e cáustico humor. É um desses espetáculos onde impera o capricho e tudo funciona a contento para encher os olhos da platéia.

A peça narra os infortúnios de uma população explorada por uma Companhia (a Companhia da Boa Urina – CBU) que graças a conchavos e esquemas de corrupção com o poder público tem a concessão para explorar os banheiros públicos da cidade durante uma interminável crise hídrica, cobrando taxas extorsivas. Tudo se complica quando surge um líder entre os desvalidos que resolve enfrentar o poderoso dono da Cia. Sem ser maniqueísta, o texto expõe os dois lados da moeda, mostrando que, se de um lado a ganância é nociva, por outro lado a demagogia sem planejamento também pode se constituir um mal igualmente letal.

O espetáculo ao mesmo tempo que lança mão de todos os estereótipos que compõem os folhetins e musicais clássicos, os usa para satirizar, subverter e arrancar gargalhadas da platéia, de forma crítica e inteligente. Uma delícia!

O elenco, muito bem dirigido compõe uma estrutura harmônica, com todos os atores atuando com graça e alegria. O mestre de cerimônia fica por conta da caricata figura do policial que reprime qualquer rebeldia que possa por em risco a supremacia dos poderosos. Seu intérprete é Daniel Costa, que dá um show de humor do começo ao fim do espetáculo. O herói dos oprimidos fica por conta do limpador de latrinas Bonitão, vivido por Caio Salay e seus reluzentes olhos azuis. Outro show! Na ala feminina, Luz, a mocinha do espetáculo, é vivida com extrema graça pela afinadíssima Bruna Guerin. Encantadora! Penélope Peneira, a administradora dos banheiros, que guarda um segredo de folhetim, fica por conta da superlativa presença de Nábia Vilela, que tira proveito de seu histrionismo em pleno favor da personagem. Deliciosa! Outro destaque é Luciana Ramanzini, que vive a Garotinha de forma maravilhosa. Garantindo o humor, de forma brilhante, está também Fábio Redkowicz no papel do policial auxiliar Berro. O elenco todo (13 atores) está muito afinado e garante um espetáculo vibrante.


"Urinal, o Musical" é um desses espetáculos que dá gosto assistir e nos faz sair felizes do teatro, pelo privilégio de ter assistido a um espetáculo encantador. Um triunfo!


URINAL, O MUSICAL. À direita, Caio Salay e Nabia Villela

DANIEL COSTA (em primeiro plano) em URINAL, O MUSICAL
Caio Salay e Bruna Guerin, os apaixonados de URINAL, O MUSICAL

Fábio Redkowicz e Daniel Costa, ótimos em URINAL, O MUSICAL

a maravilhosa Nabia Villela com Bruna Guerin e Adriana Alencar em URINAL, O MUSICAL

Caio Salay e Bruna Guerin em URINAL, O MUSICAL
Daniel Costa e Luciana Ramanzini em URINAL, O MUSICAL

Gerson Esteves e Roney Facchini, o político corrupto e o empresário corruptor em URINAL, O MUSICAL

Nabia Villela em URINAL, O MUSICAL

URINAL, O MUSICAL

“KRUM” – O heróico ato de se viver num mundo Conturbado

O TEATRO QUE EU VI - TEXTO ESCRITO EM 21/07/2015
A temporada paulistana de teatro está num momento esplêndido. Há peças para todos os gostos. Musicais deslumbrantes, comédias impagáveis e dramas consistentes. Entre esses últimos, está “Krum” (Teatro Anchieta – Sesc Consolação), mais uma parceria entre o diretor Márcio Abreu (Cia Brasileira de Teatro) e a atriz Renata Sorrah. Depois do magnífico “Essa Criança”, a dupla se une mais uma vez para levar à cena um autor inédito no Brasil e um espetáculo de alta consistência dramática.
Renata Sorrah é uma das mais conhecidas atrizes de telenovelas do Brasil, tendo atuado em dezenas de sucessos da TV Globo. Nessa condição, poderia acomodar-se ou direcionar suas participações em teatro para espetáculos de apelo mais comercial. O que ela faz, vai na contramão disso. Seus espetáculos, mesmo que tenham a assinatura de autores famosos, invariavelmente, contemplam textos difíceis, onde ela se permite o desafio de seu imenso potencial dramático. É o que acontece mais uma vez.
“Krum” é uma peça escrita pelo israelense Hanoch Levin (1943 – 1999) nos anos 1970. As personagens são pessoas comuns, levando suas vidas em meio às turbulências políticas e sociais que pairam sobre suas cabeças. São criaturas simples, presas em suas amarras, sem chance de se libertarem e desprovidas de atos heróicos, a não ser a heróica sobrevivência num mundo conturbado. Krum, essencialmente um perdedor, é um homem que depois de vagar pelo mundo, volta para casa desesperançado e sem expectativas. À sua espera estão a mãe amargurada, a ex-namorada desiludida, o amigo enfermo, os vizinhos glutões e outros mais. O retrato amargo dessas vidas vai aos poucos se descortinando para a platéia em cenas ora dramáticas, ora puramente patéticas.
Não é fácil manter em pé um espetáculo sem apelos fáceis, mas quando está no palco um super elenco, comandados por um diretor sensível e antenado, as coisas caminham muito bem e é isso o que acontece. Vivendo o desesperançado Krum encontramos uma atuação espantosamente plena de Danilo Grangheia. Sua mãe é vivida com fúria por Grace Passô, em atuação arrebatora. A atriz também se desdobra em outra personagem, a debochada amiga chic que visita os velhos amigos de infância em companhia de um caliente amante italiano, impagavelmente interpretado por Rodrigo Bolzan. Outra atuação superlativa é a de Ranieri Gonzalez, como Tugati, o velho amigo do protagonista, em estado de adiantada enfermidade. Na pele de Dupa, a amiga solteirona em busca de um casamento, mesmo que seja com alguém de quem nada se espere está Inez Viana, em belíssimo desempenho. O impagável e debochado casal de amigos, Felícia e Dolce, ávidos por uma festa de casamento onde possam comer bem, é vivido com brilho por Cris Larin e Edson Rocha. Ele por sinal, dá um show cantando a canção "Skyline Pigeon". Tudra, a ex-namorada e eterna apaixonada de Krum, é a personagem de Renata Sorrah. Em atuação, mais uma vez, superlativa, a grande atriz dispensa a posição de protagonista para se entregar,visceralmente, ao fabuloso texto e presta, assim, mais um valoroso serviço ao teatro. Que beleza! Completando o elenco, Rodrigo Ferrarini aparece como o namorado apaixonado da personagem Tudra, conformando-se com as migalhas de seu afeto. Que beleza de time!
“Krum” é desses espetáculos que somam pontos em todos os quesitos e assisti-lo, constitui um extraordinário privilégio à platéia. Maravilhoso!

KRUM - PROGRAMA DA PEÇA

Edson Rocha, Rodrigo Ferrarini, Renata Sorrah, Danilo Grangheia, Cris Larin, Rodrigo Bolzan, Grace Passô, Ranieri Gonzalez e Inez Viana    

Cris Larin, Edson Rocha, Danilo Grangheia, Rodrigo Bolzan, Rodrigo Ferrarini, Grace Passô,    Renata Sorrah, Ranieri Gonzalez e  Inez Viana    

Renata Sorrah entre  Rodrigo Ferrarini e Danilo Grangheia numa cena de Krum

Krum

Inez Viana, Renata Sorrah, Cris Larin e Grace Passô

Renata Sorrah, Inez Viana, Cris Larin, Grace Passô e Danilo Ganghria em Krum