O TEATRO QUE EU VI - TEXTO ESCRITO EM 26/06/2015
Quem já viveu um tantinho
sabe que a glória é efêmera e até as fortalezas sucumbem sob a ação de um
terremoto. Essa gangorra à qual estamos sujeitos e que pode jogar alguém tanto
às alturas como ao chão, é o que mostra o oportuno espetáculo S´Imbora, o Musical – a História de Wilson
Simonal (Teatro Cetip – Rua Caropés, 88).
Simonal foi um dos maiores
nomes da MPB no final da década de 1960. Nascido no subúrbio do Rio de Janeiro, ex-cabo do exército, crooner
de banda e extremamente “safo”, viu sua sorte mudar ao aproximar-se do
legendário jornalista e produtor musical Carlos Imperial (1935-1992), que
apresentava um programa de auditório na extinta TV Guanabara, chamado Tutti
Frutti. Contratado como ajudante de
palco do apresentador, nascia ali uma amizade que durou por toda a vida e que renderia uma
parceria de grandes resultados. É de Imperial a autoria de vários sucessos do
cantor. No início dos anos 1970, no auge da fama, Simonal descobriu estar sendo
roubado por seu contador. Furioso, resolveu dar um “corretivo” no malandro e para isso, contou com a ajuda de policiais amigos que atuavam no Dops, temido órgão a
serviço da repressão militar. Ao que consta, o corretivo descambou para a
tortura e Simonal acabou sendo acusado como mandante. Como corolário, teve ainda seu nome associado a colaboradores dos militares em ações contra a
subversão, fato nunca provado e postumamente desmentido. Condenado e preso, Simonal
viu sua carreira descer ladeira abaixo e foi reduzido ao ingrato papel de
dedo-duro. A imprensa e representantes da esquerda foram implacáveis e o outrora ídolo
das multidões foi impiedosamente banido do meio artístico e condenado ao
ostracismo. Em 2000, esquecido e alquebrado, aos 62 anos de idade, Simonal
despediu-se, melancolicamente, da vida. Era o fim de uma trajetória com altos
altíssimos e baixos baixíssimos.
Anos depois, sua história
foi tema de dois livros, um escrito por Ricardo Alexandre (Nem Vem que Não Tem - A Vida e o Veneno de
Wilson Simonal – Ed. Saraiva) e outro escrito por Gustavo Alonso (Simonal
Quem Não Tem Swing Morre com a Boca Cheia de Formiga – Ed. Record), além de um vigoroso documentário
dirigido por Cláudio Manoel (Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei – 2009).
Agora chega ao
palco, na forma de um musical escrito por Nelson Motta e Patrícia Andrade, com
direção de Pedro Brício.
Para dar vida ao
emblemático artista foi escolhido um ator espetacular: Ícaro Silva. Esbanjando talento,
simpatia e muito swing, Ícaro Silva contagia a platéia do começo ao fim do
espetáculo, especialmente na reprodução do antológico dueto com Sarah Vaughan
no Programa Flávio Cavalcanti.
Com muita ginga e cantando barbaridade, o ator brinda a platéia com sucessos
como País Tropical, Meu Limão, Meu
Limoeiro, Teresinha, Na Tonga da Mironga do Cabuletê e
mais três dezenas de canções. Não
poderia haver escolha mais acertada para reproduzir a contagiante simpatia de
Simonal. Na alegria e na dor, o ator responde à altura do biografado.
Maravilhoso!
O amigo de todas as horas Carlos
Imperial, figura de proa na trajetória de Simonal, é interpretado, com paixão,
por Thelmo Fernandes e Teresa, a primeira mulher e mãe dos filhos do cantor, é
vigorosamente defendida por Marina Palha. Os demais membros do elenco se
desdobram em diversas personagens que fizeram parte da vida do cantor. Todos
muito competentes, especialmente Cassia Raquel, Ariane Souza e Dennis Pinheiro
que se destacam com suas deliciosas gingas.
Vibrante do começo ao fim, S´Imbora o Musical é mais um espetáculo que dá gosto assistir.
Encanta e emociona!
S´IMBORA, O MUSICAL - CARTAZ |
Ícaro Silva - S´IMBORA, O MUSICAL |
Ícaro Silva - S´IMBORA, O MUSICAL |
Ícaro Silva e Marina Palha - S´IMBORA, O MUSICAL |
Thelmo Fernandes e Ícaro Silva - S´IMBORA, O MUSICAL |
Ariane Souza, Livia Guerra e Cassia Raquel - S´IMBORA, O MUSICAL |
Wilson Simonal com Pelé na capa da revista Amiga (Ed. Bloch) |
Wilson Simonal nas capas da revista Intervalo (Ed. Abril) termômetro do sucesso nos anos 1960 |
fotos: divulgação e acervo Orias Elias