Em tempos de bandeiras moralistas em contraponto a ventos de
tolerância, quando deputados e senadores sobem à tribuna vociferando contra
lésbicas octogenárias da ficção e mudanças para aceite de legalização das
relações homo afetivas, nada mais oportuno do que levar o tema para o palco,
ainda uma tribuna para discussões polêmicas.
Afinal, existe ou não a famigerada “cura gay”? Essa questão
é o ponto de partida da peça “Consertando Frank” (Teatro MUBE, Rua Alemanha,
221), escrita pelo americano Ken Hanes e dirigida de forma impecável por Marco
Antônio Pâmio.
Divertido e espirituoso, o jornalista e escritor Frank
Johnston (Chico Carvalho) é o que poderia se chamar “uma bicha alegrinha”.
Aparentemente bem resolvido quanto à sua sexualidade, aceita a sugestão do
namorado, o terapeuta Jonatha Baldwin (Rubens Caribé) para, juntos,
desmascararem outro terapeuta, o Dr. Arthur Apsey (Henrique Schafer), um
suposto charlatão que diz promover em suas terapias a cura de pacientes gays,
trazendo-os de volta aos trilhos da, digamos, “normalidade”. Além de ajudar o
namorado, Frank teria a oportunidade de escrever um artigo consistente, ao
invés de artigos sobre flores e amenidades, sua marca registrada.
O que, a princípio, pareceu uma diversão para Frank, aos
poucos, se lhe revela algo mais que isso: um jogo de resultados imprevisíveis.
Difícil saber qual dos jogadores é o mais implacável. Ao expor o namorado ao
método do rival na intenção de desmascará-lo Jonatha pode estar sendo
infinitamente mais cruel, uma vez que o segundo não tem qualquer vínculo
afetivo com o paciente. Nessa disputa insana entre os dois experimentados
terapeutas, o vulnerável Frank poder ser, talvez, o mais duramente atingido e o
estrago será a medida que decidirá a partida.
Na condução desse intrigante jogo, a direção segura de Pâmio
conta com uma cenografia funcional do premiado Chris Aizner, que mistura e ao
mesmo tempo separa os dois mares em que o frágil Frank mergulha, sem saber onde
está o porto seguro.
No elenco, Henrique Schafer e Rubens Caribé estão impecáveis
como os dois terapeutas rivais, mas é Chico Carvalho o dono da bola. Navegando
entre mentiras e verdades, alegrias e tristezas, muitas dúvidas e poucas
certezas, o ator dá um show de encantadora interpretação. Maravilhoso!
Para os desavisados, “Consertando Frank” não se limita a ser
uma peça que discute sexualidade, cura gay e afins. É acima de tudo, uma
contundente reflexão sobre a crueldade da manipulação psicológica, que encontra
terreno fértil na alma de pessoas fragilizadas. É também uma instigante
avaliação sobre o grau de violência que nossa mente pode sofrer a partir,
justamente, de pessoas a quem amamos e em quem confiamos. Brilhante!
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| capa do Programa |
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| Henrique Schafer, Chico Carvalho e Rubens Caribé, desempenhos brilhantes |
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| Chico Carvalho e Rubens Caribé |
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| Henrique Schafer e Chico Carvalho |
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| Chico Carvalho e Rubens Caribé |





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