terça-feira, 23 de junho de 2015

“KRUM” – O heróico ato de se viver num mundo Conturbado

O TEATRO QUE EU VI - TEXTO ESCRITO EM 21/07/2015
A temporada paulistana de teatro está num momento esplêndido. Há peças para todos os gostos. Musicais deslumbrantes, comédias impagáveis e dramas consistentes. Entre esses últimos, está “Krum” (Teatro Anchieta – Sesc Consolação), mais uma parceria entre o diretor Márcio Abreu (Cia Brasileira de Teatro) e a atriz Renata Sorrah. Depois do magnífico “Essa Criança”, a dupla se une mais uma vez para levar à cena um autor inédito no Brasil e um espetáculo de alta consistência dramática.
Renata Sorrah é uma das mais conhecidas atrizes de telenovelas do Brasil, tendo atuado em dezenas de sucessos da TV Globo. Nessa condição, poderia acomodar-se ou direcionar suas participações em teatro para espetáculos de apelo mais comercial. O que ela faz, vai na contramão disso. Seus espetáculos, mesmo que tenham a assinatura de autores famosos, invariavelmente, contemplam textos difíceis, onde ela se permite o desafio de seu imenso potencial dramático. É o que acontece mais uma vez.
“Krum” é uma peça escrita pelo israelense Hanoch Levin (1943 – 1999) nos anos 1970. As personagens são pessoas comuns, levando suas vidas em meio às turbulências políticas e sociais que pairam sobre suas cabeças. São criaturas simples, presas em suas amarras, sem chance de se libertarem e desprovidas de atos heróicos, a não ser a heróica sobrevivência num mundo conturbado. Krum, essencialmente um perdedor, é um homem que depois de vagar pelo mundo, volta para casa desesperançado e sem expectativas. À sua espera estão a mãe amargurada, a ex-namorada desiludida, o amigo enfermo, os vizinhos glutões e outros mais. O retrato amargo dessas vidas vai aos poucos se descortinando para a platéia em cenas ora dramáticas, ora puramente patéticas.
Não é fácil manter em pé um espetáculo sem apelos fáceis, mas quando está no palco um super elenco, comandados por um diretor sensível e antenado, as coisas caminham muito bem e é isso o que acontece. Vivendo o desesperançado Krum encontramos uma atuação espantosamente plena de Danilo Grangheia. Sua mãe é vivida com fúria por Grace Passô, em atuação arrebatora. A atriz também se desdobra em outra personagem, a debochada amiga chic que visita os velhos amigos de infância em companhia de um caliente amante italiano, impagavelmente interpretado por Rodrigo Bolzan. Outra atuação superlativa é a de Ranieri Gonzalez, como Tugati, o velho amigo do protagonista, em estado de adiantada enfermidade. Na pele de Dupa, a amiga solteirona em busca de um casamento, mesmo que seja com alguém de quem nada se espere está Inez Viana, em belíssimo desempenho. O impagável e debochado casal de amigos, Felícia e Dolce, ávidos por uma festa de casamento onde possam comer bem, é vivido com brilho por Cris Larin e Edson Rocha. Ele por sinal, dá um show cantando a canção "Skyline Pigeon". Tudra, a ex-namorada e eterna apaixonada de Krum, é a personagem de Renata Sorrah. Em atuação, mais uma vez, superlativa, a grande atriz dispensa a posição de protagonista para se entregar,visceralmente, ao fabuloso texto e presta, assim, mais um valoroso serviço ao teatro. Que beleza! Completando o elenco, Rodrigo Ferrarini aparece como o namorado apaixonado da personagem Tudra, conformando-se com as migalhas de seu afeto. Que beleza de time!
“Krum” é desses espetáculos que somam pontos em todos os quesitos e assisti-lo, constitui um extraordinário privilégio à platéia. Maravilhoso!

KRUM - PROGRAMA DA PEÇA

Edson Rocha, Rodrigo Ferrarini, Renata Sorrah, Danilo Grangheia, Cris Larin, Rodrigo Bolzan, Grace Passô, Ranieri Gonzalez e Inez Viana    

Cris Larin, Edson Rocha, Danilo Grangheia, Rodrigo Bolzan, Rodrigo Ferrarini, Grace Passô,    Renata Sorrah, Ranieri Gonzalez e  Inez Viana    

Renata Sorrah entre  Rodrigo Ferrarini e Danilo Grangheia numa cena de Krum

Krum

Inez Viana, Renata Sorrah, Cris Larin e Grace Passô

Renata Sorrah, Inez Viana, Cris Larin, Grace Passô e Danilo Ganghria em Krum


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