quarta-feira, 24 de junho de 2015

QUANDO EU ERA BONITA - O Encanto das Lobas

O TEATRO QUE EU VI - TEXTO ESCRITO EM 09/05/2015



Cada tempo da vida tem lá seus encantos, mas é inegável que os verdes anos da nossa juventude são os mais esplendorosos. É um tempo em que ainda não acumulamos as perdas que inexoravelmente virão com o passar dos anos e, conseqüentemente, vemos o mundo em tons mais róseos. Entregar-se passivamente à força da gravidade é, a meu ver, um erro, na mesma proporção em que não aceitá-la também o é.

Se para os homens o peso da idade faz estragos, para as mulheres, além das transformações hormonais e a inerente vaidade feminina, o estrago parece ser ainda mais intenso. Mas elas lutam, às vezes sofrida e exageradamente, recorrendo a botox, silicones, bisturis e afins.

O momento dramático dos quarenta foi prorrogado para os cinqüenta, mas não desapareceu. É nesse momento de curva que se encontram as duas personagens de “Quando Eu Era Bonita” em cartaz às Sextas feiras no Espaço Parlapatões (Praça Roosevelt, 158). Ambas são grandes amigas e estão numa aborrecida festinha de confraternização da empresa onde trabalham. À medida que a noite avança e o teor alcoólico aumenta, as lobas (muito mais gatas que lobas, diga-se de passagem), destravam a língua e o coração, uivando contra os efeitos dessa imoralidade chamada envelhecimento e suas inevitáveis conseqüências no corpo e na alma.
Sob medida para um tour de force entre duas grandes atrizes, a peça revela-se uma delícia para a platéia. Numa inusitada profusão de desabafos e revelações, as duas mulheres embrenham-se noite adentro, desfiando um rosário de pérolas. Do patético ao terno, da suavidade à angústia, da amargura ao escracho, da realidade ao saudosismo, da revolta ao conformismo, as personagens navegam entre algumas calmarias e muitas turbulências.

O texto e a direção, ambas de Elzemann Neves, sem excepcionais ambições, e a montagem simples, embora agradabilíssimos, poderiam passar em brancas nuvens se não estivessem no palco duas atrizes na plenitude de seus talentos. Neves, acertadamente, aposta nas duas estupendas atrizes, as cartas de seu jogo. É gol de placa! Ester Laccava, a musa do teatro paulistano da atualidade, mais uma vez dá um show de interpretação. É sempre um prazer vê-la em cena, privilégio que venho tendo por esses últimos 20 anos e a cada novo trabalho o encanto se renova. Ao lado de Lulu Pavarin (maravilhosa!), forma uma dupla superlativa em cena. Em perfeita sintonia, plenas e já libertas de quaisquer amarras de texto e direção, as duas atrizes iluminam o palco e encantam a platéia. Uma maravilha!

Em tempo: o título da peça é injusto com a dupla: Elas estão lindas!

Ester Laccava e Lulu Pavarin em Quando eu Era Bonita

 Lulu Pavarin e Ester Laccava em Quando eu Era Bonita

Lulu Pavarin e Ester Laccava em Quando eu Era Bonita

Lulu Pavarin e Ester Laccava em Quando eu Era Bonita

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