Cada tempo da vida tem lá seus encantos, mas é inegável que
os verdes anos da nossa juventude são os mais esplendorosos. É um tempo em que
ainda não acumulamos as perdas que inexoravelmente virão com o passar dos anos
e, conseqüentemente, vemos o mundo em tons mais róseos. Entregar-se
passivamente à força da gravidade é, a meu ver, um erro, na mesma proporção em
que não aceitá-la também o é.
Se para os homens o peso da idade faz estragos, para as
mulheres, além das transformações hormonais e a inerente vaidade feminina, o
estrago parece ser ainda mais intenso. Mas elas lutam, às vezes sofrida e
exageradamente, recorrendo a botox, silicones, bisturis e afins.
O momento dramático dos quarenta foi prorrogado para os
cinqüenta, mas não desapareceu. É nesse momento de curva que se encontram as
duas personagens de “Quando Eu Era Bonita” em cartaz às Sextas feiras no Espaço
Parlapatões (Praça Roosevelt, 158). Ambas são grandes amigas e estão numa
aborrecida festinha de confraternização da empresa onde trabalham. À medida que
a noite avança e o teor alcoólico aumenta, as lobas (muito mais gatas que
lobas, diga-se de passagem), destravam a língua e o coração, uivando contra os
efeitos dessa imoralidade chamada envelhecimento e suas inevitáveis
conseqüências no corpo e na alma.
Sob medida para um tour de force entre duas grandes atrizes,
a peça revela-se uma delícia para a platéia. Numa inusitada profusão de
desabafos e revelações, as duas mulheres embrenham-se noite adentro, desfiando
um rosário de pérolas. Do patético ao terno, da suavidade à angústia, da
amargura ao escracho, da realidade ao saudosismo, da revolta ao conformismo, as
personagens navegam entre algumas calmarias e muitas turbulências.
O texto e a direção, ambas de Elzemann Neves, sem
excepcionais ambições, e a montagem simples, embora agradabilíssimos, poderiam
passar em brancas nuvens se não estivessem no palco duas atrizes na plenitude
de seus talentos. Neves, acertadamente, aposta nas duas estupendas atrizes, as
cartas de seu jogo. É gol de placa! Ester Laccava, a musa do teatro paulistano
da atualidade, mais uma vez dá um show de interpretação. É sempre um prazer
vê-la em cena, privilégio que venho tendo por esses últimos 20 anos e a cada
novo trabalho o encanto se renova. Ao lado de Lulu Pavarin (maravilhosa!),
forma uma dupla superlativa em cena. Em perfeita sintonia, plenas e já libertas
de quaisquer amarras de texto e direção, as duas atrizes iluminam o palco e
encantam a platéia. Uma maravilha!
Em tempo: o título da peça é injusto com a dupla: Elas estão
lindas!
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| Ester Laccava e Lulu Pavarin em Quando eu Era Bonita |
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| Lulu Pavarin e Ester Laccava em Quando eu Era Bonita |
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| Lulu Pavarin e Ester Laccava em Quando eu Era Bonita |
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| Lulu Pavarin e Ester Laccava em Quando eu Era Bonita |




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