segunda-feira, 20 de julho de 2015

CHACRINHA, O MUSICAL – UM APERTO DE SAUDADE NO CORAÇÃO

O TEATRO QUE EU VI - TEXTO ESCRITO EM 20/07/2015

Passei minha infância e adolescência assistindo à “Discoteca do Chacrinha” e à "Buzina do Chacrinha". Talvez por isso, tenha me encantado tanto com o musical que está sendo apresentado no teatro Alfa. De repente, diante dos meu olhos, resplandeceu os meus verdes anos e de volta aos meus ouvidos os hits que tocavam nas rádios e nos programas de TV.  Senti no coração um misto de alegria e nostalgia.

Abelardo Barbosa nasceu no interior de Pernambuco, na cidade de Surubim em 1917. Menino gordinho e um tanto desajeitado, já na infância mostrou talento para a animação. Bom aluno, chegou até o segundo ano do curso de medicina, mas as dificuldades financeiras da família o obrigaram a ser camelô, ocasião em que descobriu seu poder de comunicação. Migrando para o Rio de Janeiro, aceitou comandar um programa de fim de noite na Rádio Tamoio, cujo endereço era numa pequena chácara em Niterói. Daí a origem do nome Chacrinha. Não era um bom locutor, mas tinha grande personalidade e movimentava o programa com tiradas divertidas, transformando o programa num grande sucesso.  Trabalhador compulsivo, é a prova concreta de que o gênio é 90% de transpiração e 10% de inspiração. 

Inicialmente foi duramente criticado pelos intelectuais que o acusavam de explorar o mundocanismo em seus programas. Mais tarde foi reconhecido como um gênio da comunicação e considerado por Caetano Veloso como o precursor do tropicalismo. Sua temporada de maior sucesso na televisão foi na TV Globo, sendo um dos responsáveis pelo período de ascensão da emissora. Mais tarde, Boni, o poderoso diretor geral da Globo, o demitiu, assim como a Dercy Gonçalves,  sob a argumentação de que seus programas não atendiam ao “padrão globo de qualidade”. Esse revés deixou profunda mágoa no Velho Guerreiro. Nada, no entanto o tirou de seu propósito, partindo para contratos com outras emissoras e apresentando seu programa por todo  o Brasil.

Na vida pessoal, mostrava-se um homem fragilizado e inseguro. Do seu casamento com Dona Florinda, nasceram 3 filhos homens. Num trágico acidente, um deles (José Renato) ficou paraplégico. Mais uma dura prova emocional para o incansável Chacrinha.

Para um grande número de artistas, Chacrinha foi um verdadeiro pai, lançando carreiras e promovendo suas músicas. Mas também cobrava fidelidade e magoava-se com muitas injustiças daqueles que após alcançarem o sucesso lhe viravam as costas e se recusavam a cantar em seus programas.

Além das sensuais e legendárias chacretes, são célebres suas frases  como “na televisão nada se cria, tudo se copia”, “Quem não se comunica se trumbica”, “alô, alô Terezinha é um barato a discoteca do Chacrinha”, “Roda, roda e avisa, um minuto de comercial”, “vocês querem bacalhau?” , “Eu vim pra confundir, não para explicar!”, “você vai cantar o quê, meu filho?” , “vai para o trono ou não vai?”, “palmas pra ele que ele merece!” , “E agora vamos receber a internacional... “ , “cheguei, baixei, saravei”, “Como vai meu bem, veio a pé ou veio de trem?”, “Terezinha...” e uma infinidade de outras tantas.

No seu programa “Buzinha do Chacrinha”, reunia um time quase bizarro de jurados que incluía tipos exóticos como Elke Maravilha, Pedro de Lara e Aracy de Almeida, a quem ele se referia como “a Dama da central”, devido à preferência da velha cantora pelas viagens de trem para as gravações do programa em São Paulo.

O velho Guerreiro morreu em  Junho de 1988, aos 70 anos, menos de um mês após apresentar seu último programa. Fumante inveterado, teve câncer no pulmão e insuficiência respiratória. Na memória de quem conheceu seu trabalho e seus anárquicos programas, que incluía troféu abacaxi, concurso de pulgas e outras maluquices,  continua mais vivo que nunca. Uma lenda!

A vida do Velho Guerreiro é contada num roteiro criado por Pedro Bial, sob a direção musical de Délia Fischer. Na primeira fase o comunicador é interpretado pelo ator Léo Bahia e na segunda por Stepan Nercessian. Ambos estão ótimos, mas a identificação com a imagem clássica do apresentador favorece o segundo.  Uma infinidade de cantores e jurados que fizeram parte da vida do apresentador desfila pelo palco sem maiores aprofundamentos por parte de seus intérpretes, apenas com referências a seus tipos (Elke Maravilha, Pedro de Lara, Ney Matogrosso, Clara Nunes, Elba Ramalho, Benito de Paula, Sidney Magal, Caetano Veloso, Roberto Carlos, Wanderléia, Dercy Gonçalves, Ritchie, Gonzaguinha, Rosana, entre outros). Também aparecem em cena os pais, a mulher e os filhos, igualmente como pano de fundo da narrativa.

O cenário do segundo ato recriando o mesmo cenário dos programas de auditório proporciona uma viagem no tempo. Gringo Cardia é o responsável.


O espetáculo “Chacrinha, o Musical” encanta por sua descontração e por mostrar os dois lados de um dos maiores gênios da comunicação do Brasil. O fato é que Chacrinha foi e continua sendo único. Só isso já confere um clima de encantamento ao espetáculo. Maravilhoso!

Chacrinha, o Musical

Chacrinha, o Musical - Stepan Nercessiam, ótimo!

Chacrinha, o Musical - Leo Bahia

Chacrinha, o Musical

Chacrinha, o Musical - Ultraje a Rigor
Chacrinha, o Musical - Benito di Paula

Chacrinha, o Musical - Clara Nunes

Chacrinha, o Musical - Dercy


Chacrinha, o Musical - Elke Maravilha

Chacrinha, o Musical - Ney Matogrosso


Chacrinha, o Musical - Pedro de Lara

Chacrinha, o Musical - Ritchie

Chacrinha, o Musical - o lado frágil do exuberante comunicador
Chacrinha, o verdadeiro, um fenômeno de comunicação
Chacrinha, o verdadeiro

Fotos: divulgação

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