Passei minha infância e adolescência
assistindo à “Discoteca do Chacrinha” e à "Buzina do Chacrinha".
Talvez por isso, tenha me encantado tanto com o musical que está sendo
apresentado no teatro Alfa. De repente, diante dos meu olhos, resplandeceu os meus
verdes anos e de volta aos meus ouvidos os hits que tocavam nas rádios e nos
programas de TV. Senti no coração um misto de alegria e nostalgia.
Abelardo Barbosa nasceu no
interior de Pernambuco, na cidade de Surubim em 1917. Menino gordinho e um
tanto desajeitado, já na infância mostrou talento para a animação. Bom aluno,
chegou até o segundo ano do curso de medicina, mas as dificuldades financeiras
da família o obrigaram a ser camelô, ocasião em que descobriu seu poder de
comunicação. Migrando para o Rio de Janeiro, aceitou comandar um programa de
fim de noite na Rádio Tamoio, cujo endereço era numa pequena chácara em
Niterói. Daí a origem do nome Chacrinha. Não era um bom locutor, mas tinha
grande personalidade e movimentava o programa com tiradas divertidas, transformando o programa num grande sucesso. Trabalhador compulsivo, é a prova concreta de
que o gênio é 90% de transpiração e 10% de inspiração.
Inicialmente foi duramente
criticado pelos intelectuais que o acusavam de explorar o mundocanismo em seus
programas. Mais tarde foi reconhecido como um gênio da comunicação e considerado por
Caetano Veloso como o precursor do tropicalismo. Sua temporada de maior sucesso na televisão foi
na TV Globo, sendo um dos responsáveis pelo período de ascensão da emissora.
Mais tarde, Boni, o poderoso diretor geral da Globo, o demitiu, assim como a Dercy
Gonçalves, sob a argumentação de que seus
programas não atendiam ao “padrão globo de qualidade”. Esse revés deixou
profunda mágoa no Velho Guerreiro. Nada, no entanto o tirou de seu propósito,
partindo para contratos com outras emissoras e apresentando seu programa por
todo o Brasil.
Na vida pessoal, mostrava-se um
homem fragilizado e inseguro. Do seu casamento com Dona Florinda, nasceram 3
filhos homens. Num trágico acidente, um deles (José Renato) ficou paraplégico.
Mais uma dura prova emocional para o incansável Chacrinha.
Para um grande número de
artistas, Chacrinha foi um verdadeiro pai, lançando carreiras e promovendo suas
músicas. Mas também cobrava fidelidade e magoava-se com muitas injustiças daqueles que
após alcançarem o sucesso lhe viravam as costas e se recusavam a cantar em seus programas.
Além das sensuais e legendárias
chacretes, são célebres suas frases como
“na televisão nada se cria, tudo se copia”, “Quem não se comunica se trumbica”,
“alô, alô Terezinha é um barato a discoteca do Chacrinha”, “Roda, roda e avisa,
um minuto de comercial”, “vocês querem bacalhau?” , “Eu vim pra confundir, não
para explicar!”, “você vai cantar o quê, meu filho?” , “vai para o trono ou não
vai?”, “palmas pra ele que ele merece!” , “E agora vamos receber a
internacional... “ , “cheguei, baixei, saravei”, “Como vai meu bem, veio a pé
ou veio de trem?”, “Terezinha...” e uma infinidade de outras tantas.
No seu programa “Buzinha do
Chacrinha”, reunia um time quase bizarro de jurados que incluía tipos exóticos
como Elke Maravilha, Pedro de Lara e Aracy de Almeida, a quem ele se referia
como “a Dama da central”, devido à preferência da velha cantora pelas viagens
de trem para as gravações do programa em São Paulo.
O velho Guerreiro morreu em Junho de 1988, aos 70 anos, menos de um mês
após apresentar seu último programa. Fumante inveterado, teve câncer no pulmão
e insuficiência respiratória. Na memória de quem conheceu seu trabalho e seus
anárquicos programas, que incluía troféu abacaxi, concurso de pulgas e outras
maluquices, continua mais vivo que
nunca. Uma lenda!
A vida do Velho Guerreiro é
contada num roteiro criado por Pedro Bial, sob a direção musical de Délia Fischer.
Na primeira fase o comunicador é interpretado pelo ator Léo Bahia e na segunda
por Stepan Nercessian. Ambos estão ótimos, mas a identificação com a imagem
clássica do apresentador favorece o segundo.
Uma infinidade de cantores e jurados que fizeram parte da vida do
apresentador desfila pelo palco sem maiores aprofundamentos por parte de seus
intérpretes, apenas com referências a seus tipos (Elke Maravilha, Pedro de Lara,
Ney Matogrosso, Clara Nunes, Elba Ramalho, Benito de Paula, Sidney Magal, Caetano Veloso, Roberto Carlos, Wanderléia, Dercy Gonçalves, Ritchie, Gonzaguinha,
Rosana, entre outros). Também aparecem em cena os pais, a mulher e os filhos,
igualmente como pano de fundo da narrativa.
O cenário do segundo ato
recriando o mesmo cenário dos programas de auditório proporciona uma viagem no
tempo. Gringo Cardia é o responsável.
O espetáculo “Chacrinha, o
Musical” encanta por sua descontração e por mostrar os dois lados de um dos
maiores gênios da comunicação do Brasil. O fato é que Chacrinha foi e continua
sendo único. Só isso já confere um clima de encantamento ao espetáculo.
Maravilhoso!
![]() |
| Chacrinha, o Musical |
![]() |
| Chacrinha, o Musical - Stepan Nercessiam, ótimo! |
![]() |
| Chacrinha, o Musical - Leo Bahia |
![]() |
| Chacrinha, o Musical |
![]() |
| Chacrinha, o Musical - Ultraje a Rigor |
| Chacrinha, o Musical - Benito di Paula |
![]() |
| Chacrinha, o Musical - Clara Nunes |
![]() |
| Chacrinha, o Musical - Dercy |
![]() |
| Chacrinha, o Musical - Elke Maravilha |
![]() |
| Chacrinha, o Musical - Ney Matogrosso |
![]() |
| Chacrinha, o Musical - Pedro de Lara |
![]() |
| Chacrinha, o Musical - Ritchie |
![]() |
| Chacrinha, o Musical - o lado frágil do exuberante comunicador |
![]() |
| Chacrinha, o verdadeiro, um fenômeno de comunicação |
![]() |
| Chacrinha, o verdadeiro |
Fotos: divulgação














Nenhum comentário:
Postar um comentário