O TEATRO QUE EU VI - TEXTO ESCRITO EM 10/07/2015
Os efeitos do tempo e as
lembranças armazenadas são sempre matérias primas de grande capacidade dramática e a dramaturgia desde
tempos idos se vale delas para produzir grandes obras. Esse fascinante universo
é mais uma vez explorado na peça “O Jardim”, produção da Cia Hiato, em cartaz no Tusp (Rua Maria
Antônia, 294).
A peça apresenta 3 tempos de uma
casa e um jardim, contados simultaneamente e ao mesmo tempo em separado. Para
tanto, a excelente concepção do diretor Leonardo Moreira mostra-se inventiva e
é um dos trunfos da montagem, que o fabuloso grupo de atores executa com extraordinário apuro técnico. Falar mais sobre o feito seria correr o risco de
tirar o efeito surpresa que encanta a platéia. Melhor ver!
Os três movimentos da história são defendidos com muita
competência pelo elenco. Todas as fases são interessantes e prendem a atenção
do público. Numa das fases, um casal tenta colocar os pingos nos is de uma relação
em crise logo após a compra de uma casa e seu majestoso jardim. Os atores
Thiago Amaral e Fernanda Stefanski dão conta do denso embate.
Numa outra fase, talvez a melhor,
duas filhas preparam o pai senil para levá-lo a um asilo. O encontro é pretexto
para que um mundo de lembranças e ressentimentos venha à tona. Maria Amélia
Farah (estupenda!) é a filha abnegada, numa atuação comovente, contida e sóbria.
Seu contraponto é a irmã tresloucada, uma atriz que fez carreira na França,
deliciosamente vivida por Luciana Paes. A mistureba de português e francês de
suas falas, os devaneios nonsenses e suas súbitas pausas reflexivas são, no
mínimo, impagáveis. Pivô do maravilhoso embate entre as irmãs, o velho pai, em
seu doloroso silêncio, encontra em Edison Simão uma personificação
absolutamente emocionante. Um trio para se aplaudir de pé!
No terceiro quadro, uma jovem
mulher e sua fiel ajudante estão
desmontando uma velha casa desapropriada e fazendo um registro de suas
memórias. As ótimas Aline Filócomo e
Paula Picarelli dão vida às duas personagens, alternando situações ora dramáticas,
ora patéticas.
Uma profusão de caixas de
variados tamanhos compõe o criativo cenário de Marisa Bentivegna. Tanto funcionam
como paredes de um castelo de cartas que ameaça a todo instante desmoronar,
como divisórias de tempos e histórias ou como escaninhos que escondem em seus
interiores as memórias de um passado. São também os labirintos de um jardim e
ao mesmo tempo os labirintos da alma. Ao se moverem, fazem aflorar, de suas
entranhas, alegrias e dores, mágoas e ressentimentos, boas e más recordações e
mostram, por fim, o efeito devastador do tempo em nossas vidas.
“O Jardim” com suas dolorosas cercas,
pode não ser um prado de delícias, mas é um muito bem cuidado espetáculo,
delicioso em sua estupenda criação. Belíssimo, enfim!
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| O Jardim - O devastador efeito do tempo no corpo e na alma |
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| Thiago Amaral e Fernanda Stefanski em O Jardim - Denso embate de um casal em crise |
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| Maria Amélia Farah e Edison Simão em O Jardim - atuações comoventes |
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| Aline Filócomo e Paula Picarelli, ótimas em O Jardim |
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| Thiago Amaral e Fernanda Stefanski em O Jardim |
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Thiago Amaral e Fernanda Stefanski em O Jardim
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| Luciana Paes, Maria Amélia Farah e Edison Simão, deslumbrantes em O Jardim |
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| Luciana Paes em O Jardim - atuação deliciosa! |
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Luciana Paes, Edison Simão e Maria Amélia Farah em O Jardim
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| Luciana Paes em O Jardim |
fotos - divulgação - fotógrafos: Annelize Tozetto e Lígia Jardim
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